O direito a absolutamente nada

J. sem ter para onde ir
JBO

J é uma menina de 17 anos, negra, pobre e moradora de rua.

Foi ela a protagonista do nascimento de um bebê no passeio da calçada da Maternidade Santa Isabel, em plena sexta-feira da Paixão de Cristo.

O seu quarto filho, chegou sem que tivesse sequer o direito a um médico para recebê-lo.

J. é o que podemos chamar de "vítima do sistema", apesar dos julgamentos mesquinhos daqueles que, ao vê-la na rua, ache que trata-se de mais uma pessoa que não quer nada na vida.

A realidade é justamente outra. Foi a vida quem não lhe oportunizou condições melhores.

Estuprada pelo padastro, fugiu da violência e enveredou-se pelas ruas de Ilhéus.

Passou a fazer parte de uma estatística desconhecida (afinal, quem, de fato, tem um diagnóstico sobre quantas pessoas perambulam pelas ruas de Ilhéus?), mas de uma triste realidade que compõe o cenário da cidade onde todos se orgulham da riqueza de sua história e da força da sua gente.

No hospital onde, por 50 reais um médico autoriza cortar uma fila do SUS e por 400 lhe oferece um parto mais decente, J. penou porque não tinha 50, nem 40, muito menos 30, nem 20, 10 reais nem pensar. J. não tinha nada.

J. pede igual aos que nem precisam desta "esmola"

J. não tem nada.

Nem o direito de dar a luz em condições humanas.

Um direito que a vida, por pior que possa parecer ser, lhe permite.